A crescente adesão de empresas na oferta do benefício foi responsável pelo índice, segundo Oswaldo Nascimento, vice-presidente da instituição. “A previdência privada, ao contrário do salário, é uma forma de as companhias reterem e atraírem talentos sem a incidência de encargos tributários”, compara.
Para César Lopes, consultor da Towers Watson, empresa de gestão de pessoas, com a economia aquecida, os depósitos também são maiores. “[O aumento de aportes] é reflexo de aplicações mais altas feitas por funcionário e empregador”, explica.
Pesquisa realizada em abril pela consultoria com 236 empresas de grande porte aponta que 70% (165) delas oferecem previdência privada.Esse é o caso da Pepsico, multinacional de bebidas e alimentos, que concede o benefício a todos os funcionários.
“O objetivo é mostrar o interesse da empresa em firmar relacionamento de longo prazo com a equipe”, destaca Andréia Vitoriano, gerente de recursos humanos. Recém-aposentado pela Bosch, do setor de tecnologia, o engenheiro Eduardo Tilkian, 60, usufrui do plano pago pela empresa por 38 anos. “Consegui manter o padrão de vida com o fundo.”
Oferta do benefício varia nas empresas: 18% das organizações custeiam o plano de previdência da equipe; demais exigem participação do funcionário
Embora as empresas vejam no plano de previdência privada um ganho na retenção de bons profissionais, a forma como o benefício é oferecido varia nas organizações.Segundo a pesquisa
“Planos de Benefícios no Brasil”, da consultoria Towers Watson, 18% das companhias fazem aportes mensais sem que o trabalhador precise depositar qualquer quantia no fundo. As demais (82%) exigem contribuição do empregado para que a empresa também faça aportes periódicos.
A Whirlpool, multinacional de eletrodomésticos, adiciona ao fundo de 50% a 200% do valor depositado pelo profissional. Já os trabalhadores que não fazem aportes recebem contribuição mínima de 1% do valor do salário.
Na Henkel, de bens de consumo, a adesão dos funcionários à previdência privada é voluntária. O profissional deve fazer depósitos mensais ao fundo para que a empresa duplique o valor investido, afirma Eduardo Soares, gerente de recursos humanos.
Para Armando Bordallo, diretor de RH da consultoria Ernst & Young, ainda que existam diferenças na concessão do plano, o benefício traz satisfação aos funcionários. “Eles se sentem parte de uma relação construída em conjunto e a longo prazo.”
Gabriel Barbieri, 23, analista de marketing da Senior, desenvolvedora de software, aderiu à previdência há dois anos, quando teve seu primeiro filho. “Antes de aceitar qualquer proposta, avalio os benefícios oferecidos”, diz ele, que deposita 2,5% do salário no fundo e recebe a mesma quantia do empregador.
RESTRINGIR PROGRAMA A POSIÇÕES GERENCIAIS DESMOTIVA EMPREGADO
Oferecer plano de previdência a parte dos profissionais nem sempre traz bons resultados. Concedê-lo só para executivos, por exemplo, pode resultar na desmotivação da equipe, avalia Adriana Zanni, diretora de RH da consultoria KPMG. “Não faz sentido oferecer o plano para um público específico”, destaca.
O analista financeiro Dalmar Assis, 43, não tem direito à previdência privada, uma vez que o benefício só é oferecido a cargos gerenciais na montadora em que trabalha. “[O benefício] seria um diferencial”, considera ele, que decidiu fechar um plano individual na semana passada.
Já para Gustavo Costa, diretor da Hays Brasil, de recrutamento e seleção, a diferenciação tem seu lado bom.”O funcionário acaba motivado a lutar para subir de cargo”, pondera ele.
VALOR DO DEPÓSITO DEPENDE DA IDADE : PROFISSIONAL DEVE PESQUISAR HISTÓRICO E IDONEIDADE DA ADMINISTRADORA RESPONSÁVEL PELO FUNDO
Antes de optar por um plano de previdência privada empresarial, o profissional deve ficar atento ao regulamento descrito no contrato e à quantia mensal destinada ao fundo “”tanto pela empresa quanto pelo trabalhador””, aconselham especialistas consultados pela Folha.
Calcular o valor de aposentadoria necessário para manter o mesmo padrão de vida do período na ativa é essencial para estipular o valor mínimo de depósito, assinala Sérgio Jurandyr, professor de finanças do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa).
“A previdência empresarial vale muito a pena porque, na maioria da vezes, a taxa de carregamento [administração] é mais baixa [do que a da individual]”, avalia Jurandyr.
Segundo o especialista, jovens de 20 anos, por exemplo, devem destinar 10% da renda à previdência privada; funcionários com mais de 30 anos têm de contribuir com, pelo menos, 25% do salário.
“Como há um valor máximo de depósito em fundos empresariais, quem quiser colocar mais dinheiro tem a opção de abrir uma previdência privada individual, contanto que consiga administrar bem os dois fundos”, diz.
Antes de optar pela previdência privada empresarial, Paulo Shinohara, 36, coordenador de supervisão de tecnologia da informação da consultoria KPMG, calculou a aposentadoria necessária para manter o padrão de vida de sua família no futuro.”Fiz uma projeção a longo prazo com os profissionais da empresa e pesquisei a segurança do fundo antes de optar pela previdência privada.”
Segundo Fabio Gallo Garcia, professor de finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas), verificar o histórico da seguradora que administrará o plano é fundamental para evitar contratempos. Para tanto, vale pesquisar informações sobre a organização e conferir comentários feitos por clientes na internet. “Há casos em que a empresa entra em falência e o segurado perde todo o investimento feito”, exemplifica Garcia.
GESTÃO
No entanto, a previdência privada empresarial, quando bem avaliada, é extremamente benéfica ao funcionário, avalia Garcia. “O benefício é vantajoso para quem não sabe gerir uma carteira de investimentos e não tem o costume de guardar dinheiro.”
Apesar de a Whirlpool fazer depósitos mensais ao fundo dos funcionários, a especialista em recursos humanos Andrea Bianchi, 25, contribui do próprio bolso para complementar o montante. “[A previdência] é um investimento a longo prazo que decidi fazer desde que era trainee da organização”, conta.
ANÁLISE DO CONTRATO
1 Previdência aberta; Acessível a qualquer pessoa. Consiste nos planos de previdência individuais
2 Previdência fechada: Tem adesão restrita a funcionários de empresas e integrantes de associações
3 Cobrança de taxas: Tanto a previdência aberta quanto a fechada têm taxa de administração. É preciso compará-la às cobradas por outras seguradoras
4 Depósito da empresa: A contribuição da empresa no plano de previdência privada é definida no contrato. O segurado deve avaliar se o benefício é vantajoso
Fontes: especialistas
DEVOLUÇÃO DE TOTALIDADE DE FUNDO ESTÁ VINCULADA A TEMPO DE CASA
Desde que a portabilidade do fundo dos planos de previdência privada tornou-se obrigatória, em 2001, as empresas criaram regras próprias para usar o benefício na retenção de talentos.
Uma parte delas devolve o saldo integral do fundo aos funcionários desligados aporte do funcionário e da empresa. Outra, no entanto, restringe o valor depositado pela organização.
Na Senior, desenvolvedora de software, o funcionário pode reaver todo o dinheiro do fundo somente no momento da aposentadoria.
“Nosso objetivo é fazer com que as pessoas pensem bem antes de sair da companhia. Não dá para criar uma guerra salarial para manter funcionários na empresa”, avalia a gerente de desenvolvimento, Jussara Dutra.
Já na Bosch, multinacional do setor de tecnologia, há um teto de resgate para profissionais com mais de três anos de trabalho na empresa. O saldo total só pode ser sacado por profissionais com, no mínimo, 50 anos de idade e em parcelas mensais.
O engenheiro Guilherme Andrade, 61, conseguiu migrar o volume de recursos de seu fundo de previdência privada para aderir ao benefício oferecido pela companhia do setor de bens de consumo em que atua atualmente. “Quero uma aposentadoria generosa”, ressalta Andrade, que pretende aposentar-se no fim do ano.