Enquanto os peritos denunciam os gestores como responsáveis por um desmonte no instituto, que seria responsável por demoras de até quatro meses para agendar um exame, a superintendência do órgão em Brasília resolveu lançar suspeitas sobre a produtividade dos médicos gaúchos e deflagrou uma intervenção branca na gerência de Porto Alegre. Em meio ao bate-boca, o trabalhador sofre com o péssimo atendimento.
Em entrevista concedida ontem a ZH (veja nesta página), o presidente do órgão, Mauro Hauschild, disse que peritos gaúchos realizam menos exames que seus colegas de outros Estados e afirmou suspeitar de que parte deles burla o sistema de ponto eletrônico para não trabalhar. Hauschild sofre pressão da Casa Civil para elevar a quantidade de perícias no Estado, onde o desempenho está entre os piores do país.
Na próxima quinta-feira, Hauschild estará em Porto Alegre para discutir mudanças. Cobrará reforço nos atendimentos e mudará a distribuição dos médicos. A corregedoria do INSS ainda vai apurar se os peritos de fato cumprem a jornada de trabalho, já que todos os profissionais são obrigados a bater o ponto eletrônico.
Os representantes dos médicos contam outra história. Segundo eles, a demora nos atendimento é por falta de servidores. Clarissa Bassin, vice-presidente da associação dos peritos gaúchos, afirma que o problema é a debandada de profissionais, por aposentadoria ou pedido de demissão. Segundo dados da Associação, 1.332 médicos demitiram-se nos últimos 40 meses no país. De dezembro de 2008 a abril de 2012, o total de profissionais no sistema teria caído de 5.362 para 4.590 — queda de 14,39%.
— A acusação de que os médicos não trabalham não confere. Estão dizendo isso para criar uma cortina de fumaça e esconder que fazem uma gestão horrorosa. Os salários estão congelados desde 2008 e as condições de trabalho são horríveis. Os médicos pedem demissão e o INSS não consegue repor — afirma Clarissa.
Luís Carlos Rogério Freire, delegado da Associação Nacional dos Médicos Peritos na gerência de Novo Hamburgo, diz que é impossível não cumprir os horários, porque a marcação de ponto é eletrônica e ligada diretamente a um controle central.
— Muitos estão saindo, com exonerações e aposentadorias diárias. Os peritos precisam se deslocar de agência para cobrir a falta de médicos em outras cidades.
O quadro é considerado extremo em gerências do INSS do Rio Grande do Sul, onde a remuneração oferecida pelo instituto está abaixo da média do mercado, o que motiva as demissões. Composta por quatro unidades, a gerência da Capital tinha, em 2010, 80 peritos. Atualmente, são 57, sendo que somente a metade faz consultas agendadas. O restante realiza atividades distintas.
— Há dois anos, a espera para uma perícia era de um dia em Porto Alegre. Hoje, a média supera os 90 dias— aponta Verusa Guedes, diretora de Saúde do Trabalhador do INSS.
Para reverter o atual panorama, Hauschild promete redistribuição de servidores, mas também quer aumento de produtividade. Na semana passada, repassou aos gerentes das unidades do INSS a ordem de alavancar os atendimentos. No caso de Porto Alegre, cada médico terá de realizar 18 perícias diárias, segundo ele o dobro do desempenho atual. Para o sindicato nacional da categoria, o ideal seria fazer 12 atendimentos ao dia.
— O correto é trabalhar seis horas diárias com atendimentos, numa média de meia hora por paciente. O INSS só pensa em quantidade, não em qualidade de serviço — critica Eduardo Henrique Almeida, diretor de Relações Interinstitucionais do sindicato.